sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Auschwitz à conta-gotas

Auschwitz é o mais conhecido campo de concentração nazista. A “fama” é decorrente das incontáveis pessoas mortas nesse local. Ciganos, gays, judeus e outras minorias passaram pela “linha de montagem” da morte, situada nos muros do estabelecimento. Precisão, regularidade e mecanização eram palavras adotadas nessa indústria macabra.

O objetivo dos campos de concentração era aniquilar os “diferentes”. Orientados sob as diretrizes da ideologia nazista, sistematizavam a morte dos opositores do regime. Abrimos aqui um parênteses, houve campos de concentração ou prisões tingidos com outros matizes ideológicos. A remoção dos inimigos do regime soviético, para a Sibéria, é a outra face, de outra ideologia. A Revolução Cultural comandada por Mao Tsé-Tung, a mesma coisa. Direita ou esquerda, não importa. A humanidade derramou sangue pelo caminho.

A II Guerra Mundial acabou. O Muro de Berlim caiu. E o aprisionamento de pessoas por razões étnicas, políticas e religiosas deixou de fazer sentido (nunca fez). Auschwitz e os Gulag’s são realidades distantes. Somente na aparência. O cotidiano dessas prisões pautava-se no disciplinamento do corpo e da mente. O sujeito devia ser anulado a todo custo por meio da violência e intimidação. 

E hoje, Auschwitz é possível? Não em doses maciças, como os nazistas praticavam. Homeopaticamente, sim. Quem passou pelos portais dos presídios, asilos, manicômios e demais casas de correção. Sabe a que me refiro. Tais instituições trabalham com o intuito de educar e socializar os indivíduos. O público-alvo dessas fundações são - a sociedade e o Estado assim os denomina - os seres decrépitos, diferentes, deformados. Os locais que os abrigam. Consideram-se preservadores da vida. 

Discurso mentiroso. Os cidadãos abrigados no interior desses muros, vivem a receber doses microscópicas de Auschwitz. Transponha os umbrais e verá seres esquálidos com olhares e esperanças despedaçadas. As diferenças são mínimas. O campo de concentração nazista funcionava pautado em métodos. As casas de aprisionamento contemporâneas, também. Os prisioneiros dos nazistas, esperavam as forças aliadas, para liberta-los. E hoje? A indiferença é o único cuidado oferecido pela sociedade.

2 comentários:

  1. Há mais ou menos quatro anos, saiu na revista Superinteressante uma matéria sobre o campo de concentração de Auschwitz. Era uma verdadeira fabrica da morte, com linha de produção e logística de fazer inveja a qualquer montadora automobilística. Com relação a essas instituições contemporâneas, lembrei-me do clássico filme brasileiro "Bicho de Sete-Cabeças". Indivíduos considerados marginais em sua sociedade são tratados como verdadeiros vermes até chegarem ao ponto de enlouquecer.
    Não fariam esses políticos que aí estão a mesma coisa conosco?

    Grande texto.
    Abraço.

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  2. De fato, não há mais Auschwitz, mas o que vemos ainda hoje é a mesma metodologia aplicada pelos nazistas. Pois, digam-me, o que há de diferente entre o sistema de aniquilamento citado no texto e a metodologia aplicada pelos intolerantes do presente?? Quantos morrem ou são excluídos por serem negros, por serem nordestinos, por serem gays?
    O que falar do bullying? Não podem ser gordos ou muito magros, não podem ter espinhas ou manchas de pele, muito baixos ou altos demais... Sempre serão motivos de piadas.
    As vítimas destes casos nada mais são do que os "opositores do regime", os "diferentes", os "deformados". São prisioneiros encarcerados pelo preconceito alheio; preconceito esse totalmente desprovido de razão. É o Auschwitz à conta-gotas cotidiano, que dilacera dia-a-dia, que maltrata às vezes aos gritos, às vezes a pancadas.
    A intolerância ainda hoje permanece sendo o maior mal presente na humanidade.

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