sábado, 4 de fevereiro de 2012

E a semana passada?

Participantes d'A Semana de 1922 - sabiam ler
Chegou fevereiro e as demais consequências, carnaval, samba, suor e cerveja. Esqueçam o samba (já era) resta o suor, a cerveja e música de qualidade duvidosa. Estamos em 2012, efeméride - sempre quis usar essa palavra - importante para a vida artística nacional, a Semana de Arte Moderna, completará 90 anos. O evento aconteceu entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, organizado pela vanguarda artística da época. Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e outros, apresentaram novas propostas para arte brasileira. Música, Pintura, Escultura e Literatura (prosa e poesia) expostas usando roupas limpas, livres do academicismo e do ranço europeu.

A celebração recebeu financiamento da elite paulistana e provou, mais uma vez, a proximidade entre o capital e a arte. Claro que isso não é regra, e sim algo que pode ser observado ao longo da história. A Capela Sistina foi possível graças, também, ao dinheiro. Embora o trabalho de Michelangelo seja divino, o pintor tinha necessidades terrenas. Recapitulando, a Capela é o encontro das habilidades do pintor e da grana das organizações Vaticano.

O barulho de 1922 continua ecoando nos ouvidos da arte brasileira. Abordar este tema banal parece coisa de tolo ou impressionado, tem fundamento essa afirmação. A arte moderna é parte do nosso cotidiano, há quem fale em arte pós-moderna, mesmo que inexista uma vanguarda a carregar esta bandeira. Sempre que ouvimos falar n’A Semana, são sempre aqueles chavões repetidos acima. E esquecemos de perguntar quem consumia arte no Patropi daquele tempo.

O Brasil de 1922 é diferente daquele cenário mostrado n’A Semana. Vemos os artistas e intelectuais posando para foto do evento, vestidos de maneira impecável, banho tomado e demais apetrechos. A realidade da maioria dos brasileiros era outra, rico de privações. O contexto era bem cruel, existia um batalhão de analfabetos, impossibilitados de consumir a arte dos transgressores d’A Semana. As estimativas falam em 75% da sociedade na condição de analfabetos. A estética da vida real não era das mais bonitas

Se nos prendermos a forma mais acessível de arte, a Literatura. Acredito e tenho uma certeza, os escritores - involuntariamente ou sei lá - d’A Semana publicavam livros para ler em saraus organizados por e para eles. Leitura, na década de 1920, tratava-se de um prazer inacessível a maior parte da população. A “simplicidade” da arte escrita esbarrou no fantasma do analfabetismo. O que dizer das outras manifestações artísticas presentes na semana? A maior parte da sociedade brasileira ficou fora da festa, ainda hoje é assim. Arte ou feijão com arroz continuam artigos de luxo.

3 comentários:

  1. Excelente texto. Muito bem lembrado!!!
    Wellyson Marlon Jr.

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  2. Muito interessante.
    Bom lembrar que o analfabetismo continua sendo um fantasma pertinente no nosso país.
    Precisamos de Políticas Públicas eficientes, eficazes e efetivas para reduzir esse transtorno, bem como tornar mais acessível à arte nas suas diversas manifestações.
    Grande Abraço.

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  3. Excelente reflexão, meu caro Sérgio. Como aluno do curso de Letras, em 2011 eu estudei um bocado sobre essa bendita Semana. Realmente, os intelectuais eram pessoas de classes mais elevadas, que sabiam outros idiomas e tinham acesso às publicações europeias. Mas, infelizmente, na grade do curso não há uma matéria que estude com profundidade as deficiências na educação de grande parte dos brasileiros.
    Acho que a música de má qualidade que sequestra o carnaval de hoje se deve a essa deficiência que permanece até hoje entre nós.

    Socorro.

    Abraço.

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