sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O corpse paint é nordestino


Faceta (ao centro)  é o criador do corpse paint
Engana-se quem imagina o Nordeste como aquela terra árida, retratada nas obras regionalistas ou no cinema de Glauber Rocha. A região mais conhecida do Brasil, ofereceu sua contribuição para outras outras artes. Uma delas é o Rock. Especificamente o Black Metal. Gênero musical cultuado em terras europeias e caracterizado pela ênfase as religiões pagãs e o satanismo entre outros temas.

Coloco em segundo plano o tutano musical do Black Metal. Sou desprovido de conhecimento suficiente para delimita-lo. Meu interesse é a apresentação visual dos cultores do estilo. Nosso foco é o Corpse Paint, pintura facial utilizada pelos músicos do gênero. Consiste em maquiar o rosto e deixar a fisionomia com o aspecto de um cadáver. As cores são o preto e o branco. Per Yngve Ohlin, vocalista da banda norueguesa Mayhem, é o pioneiro na utilização do Corpse Paint em shows.

Constantino Leite Moisakis (1925-1986). Apresentado formalmente ninguém saberá quem é o distinto senhor. Posso dar uma pista. A voz dele pode ser ouvida na música "A cidade", de Chico Science & Nação Zumbi. Lembrou? Sim. Trata-se do nome de batismo do "Velho Faceta". Personagem da cultura popular nordestina. O "Velho" foi o grande difusor do folguedo chamado Pastoril Profano. Vertente transgressora do Pastoril Infatil ou Lapinha. Este último homenageava a Imaculada Conceição, Menino Jesus e grande elenco. O Pastoril Profano - também chamado de Pastoril de Ponta-de-Rua e outras titulações menos enobrecedoras - conforme o nome, tem inspiração na Lapinha, mas adiciona o sexo e a zombaria. Ressalva, Faceta é o mais conhecido brincante do Pastoril. Deixamos de lado os outros adeptos dessa manifestação. Mesmo assim, a contribuição dos anônimos é importantíssima para o universo pastoril-profanesco.

O sexo é essencial para a vida na Terra. Para prolongar a vitalidade dos seres e dar leveza à existência. É impossível existir praticando somente aquele pecado que o Papa condena e provoca espinhas. A Igreja do Vaticano não percebeu (e nem percebe) isso. O ato de fornicar é para perpetuar a existência do homem e da mulher, e só. A turma do Pastoril Profano, sabia o quanto essa ideia é falsa. E tratou de "ressignificar" a Lapinha. O Pastoril de Jornadas Soltas  era um convite à iniciação sexual dos jovens. Onde o sexo está presente, o escárnio tá pertinho. Uma das atribuições desse festejo, além do contraponto a Lapinha, é zombar dos apreciadores da brincadeira.

Toda forma de arte, tem sua caracterização (roupa, maquiagem, gestos). O Velho Faceta alegremente deu sua contribuição à fúria do Black Metal. Sr. Moisakis é o precursor do Corpse Paint. Os metaleiros europeus notaram a originalidade e o imitaram. As cores preto e branco estampavam o rosto de "Seu Faceta", e amendrontavam a caretice da Igreja de Roma. O Black Metal deve inúmeras homenagens ao sr. Moisakis. Nunca ouvi uma música do Burzum, Mayhem a  louvar o ilustre nordestino. A cultura nordestina e o Velho Faceta foram injustiçados pelo Black Metal.

2 comentários:

  1. De Black Metal, como havia dito no Twitter, conheço apenas a banda Immortal, cujos integrantes se maquiavam exatamente como você descreveu.
    E de Nação Zumbi, bem, durante uma época era presença certa em meu MP4. Vi dois showzaços aqui em minha cidade. Du Peixe não é Chico e nem quer sê-lo. Isso é bom.
    Quanto à história do Velho Faceta, realmente que é uma injustiça os campos nordestinos serem esquecidos pelos habitantes dos gélidos vales nórdicos.

    Abraço.

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  2. Sérgio,

    Texto muito interessante. Gostei principalmente do trecho que mostra a impossibilidade do sexo apenas na ação provocadora de "erupções cutâneas na face".

    Penso que o rock internacional deve ser alvo de uma ação judicial que requisite os direitos autorais do corpse paint para o Velho Faceta.

    Mas vou avisar: deve demorar uns dois mil anos para a ação ser julgada definitivamente. É melhor a gente divulgar esse post pela rede. Tem mais eficiência.

    Parabéns pelo texto!

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